segunda-feira, 25 de abril de 2011

O Que Poucos Sabem Sobre o Padrão Brasileiro de Tomadas

Adotado no Brasil desde 2001, neste ano a mudança deverá ser plenamente concluída, pelo menos no que diz respeito à fabricação, comércio e instalação tanto de equipamentos quanto de  tomadas nas novas edificações. Muito já foi publicado pela imprensa nos últimos anos criticando ou defendendo o novo padrão brasileiro de tomadas e plugues (NBR 14136).
Dos artigos que li, todos tinham mais ou menos o mesmo conteúdo: afirmavam que o padrão brasileiro é mais seguro que a falta de padronização que existia antes no mercado. Que é diferente de tudo que existe em outros países. Por isto, para implementá-lo o governo teve que recorrer à força de uma lei. Um jornalista, a propósito do suposto ineditismo do padrão brasileiro, chegou denomina-lo de “jabuticaba brasileira”.
O que poucos sabem sobre o padrão brasileiro é que ele foi copiado de uma norma internacional, de 1986, idealizada originalmente para a União Europeia (e depois para o restante do mundo), a IEC 60906-1 da International Electrotechnical Commission. Esta norma não foi implementada em nenhum outro país até o Brasil decidir adotá-la em 2001, com algumas poucas alterações, sendo depois seguido pela Africa do Sul.
As consequências desta adoção são positivas ou negativas para o cidadão brasileiro, que está pagando a conta da mudança, conforme veremos a seguir:
Estética: o padrão brasileiro é horrível esteticamente. Com o tempo vamos acostumar, mas não há arquiteto ou designer que consiga disfarçar o quanto a cavidade hexagonal prejudica a beleza dos espelhos.
Sujeira: em tomadas pouco utilizadas a cavidade é propícia para acumular sujeira. Idealizadas para proteger crianças e usuários desatentos de possíveis choques, a cavidade poderá ser um fator que contribua para a incidência de choques em faxineiras e pessoas que tentem limpá-la com agua ou produtos de limpeza a base de água.
Segurança: além de proteger o usuário contra choques, porque quando os pinos são energizados, não é possível mais tocá-los, devido a cavidade , o fator mais importante de segurança no sistema não está na cavidade, e sim no fato do furo central da tomada ser mais raso, que os outros dois. Por ser destinado ao o pino do condutor Terra, isto faz com que ao conectar o plugue na tomada, o equipamento seja aterrado primeiro antes de ser energizado.
Padronização: o que existia no mercado anteriormente era problemático não pela despadronização no formato e sim pela despadronização na capacidade. O correto dimensionamento dos condutores (incluindo tomadas e plugues) para o nível de corrente elétrica demandada é fundamental para não haver aquecimentos, faíscas, choques e outros problemas. Para a despadronização de formatos os fabricantes são criativos e já tinham lançado as tomadas universais, que comportavam diferentes tipos de plugues. O problema residia na despadronização da capacidade condutiva: existiam no mercado tomadas e plugues dimensionados para 5A, 8A, 10A, 12A, 15A, 16A, 18A, 20A, 25A, etc.. Esta miscelânea de capacidade condutiva contribuia para a criação de gargalos perigosos nos circuitos. O padrão brasileiro estabelece dois níveis de capacidade condutiva 10A e 20A. Nas tomadas de 10A os furos têm 4,0mm de diâmetro, enquanto que nas de 20A os furos têm 4,8mm. Os equipamentos que demandam mais corrente têm plugues com pinos de 4,8mm que só entram nas tomadas de 20A. Já os equipamentos que demandam menos corrente têm plugues com pinos de 4,0mm, que entram tanto na tomada de 10A, quanto na tomada de 20A.
Compatibilidade: o padrão brasileiro de tomadas foi estabelecido de modo a ser compatível com a maioria dos plugues existentes, aqueles de dois pinos arredondados. Todas as demais combinações incompatíveis, devem ser resolvidas (e pagas) pelo usuário. Na época da implantação do novo padrão, as autoridades vieram a publico dizer que aproximadamente 20% das tomadas precisariam ser adaptadas, preferencialmente com a troca da tomada, ou com o uso de um adaptador certificado. Segundo dados otimistas da própria ABNT, cada residência ou escritório, teria, em média, 6 aparelhos que precisariam ser adaptados. Considerando ainda o número estimado de residências e escritórios de 45 milhões e o custo médio de uma tomada, de R$ 7,00, chegamos à bagatela de R$ 1,89 bilhões em custo a ser absorvido pela sociedade! Isto sem contar o custo de mão de obra do eletricista... Não demorou muito para que surgissem os adaptadores não certificados, de qualidade e aspecto chinfrim, eliminando o condutor Terra, que é necessário sempre que existe no plugue, e não respeitando os requisitos de desempenho e condutividade. 
Facilidade de Instalação: Em instalações comerciais ou residenciais é muito comum duas ou mais tomadas serem ligadas em série no mesmo circuito. Antes do padrão brasileiro, muitos eletricistas faziam verdadeiras gambiarras nos fios para a ligação de tomadas em série, como emendas mal isoladas, corte de parte do condutor, diminuindo a capacidade condutiva, para possibilitar a introdução de dois condutores (entrada e saida) no mesmo borne da tomada. O padrão brasileiro determina que o borne de ligação do fio na parte traseira da tomada seja duplo, assim quando o eletricista for ligar tomadas em série, usará um borne para ligar o condutor de entrada e outro para ligar o condutor de saída, sem nenhuma dificuldade e, o que é mais importante, sem fazer nenhuma gambiarra.
Como se nota, a adoção do padrão brasileiro traz muitas vantagens e desvantagens para o cidadão, usuário de energia. Pena que a divulgação das mesmas, até agora, foi mal feita pelas autoridades e pela imprensa. A sociedade que já está usando compulsoriamente os novos plugues e tomadas, e pagando a conta, nem sempre conhece todos os custos e implicações.

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